Paisagens Improváveis

Paisagens (im)prováveis

Ana Zavadil – Curadora

A paisagem é um conceito amplo que não diz respeito apenas à natureza ou à topografia, mas também à vinculação de experiências e práticas discursivas. Não podemos mais pensar a paisagem dentro de categorias fixas e permanentes, visto que sua abrangência está em sintonia com outros conceitos, como os de transitoriedade e transformação.

Nesta exposição, o título Paisagens (im)prováveis aborda um conceito que aponta para algo que não é absoluto, nem provável, mas que pode estar no limite ou no limiar de algo ou entre uma possibilidade de ser paisagem ou não paisagem.

As pinturas, os objetos, as fotografias, os desenhos e outras linguagens representam paisagens pessoais, cujo ponto de partida pode ser de uma paisagem real ou, como na maioria dos casos, um conceito em campo expandido.

Nem tudo o que está visível é uma paisagem reconhecível, às vezes são elementos de uma paisagem, em outras ocorre de forma simbólica ou metafórica. A impossibilidade de a paisagem aparecer em sua forma mais conhecida, ou seja, a partir da natureza, nem sempre é visível, já que ela se constrói por meio de memórias afetivas ou lembranças em uma dinâmica transversal.

A paisagem é o foco conceitual das obras presentes na exposição, no entanto em cada uma delas há narrativas e subjetividades em que a intenção, as tramas e os encontros levam o conceito ao limite extremo de sua interpretação.

 A arte contemporânea está em busca de novas estéticas e rumos conceituais para esse assunto antigo da História da Arte. Nas obras da exposição, é possível dimensionar o grau de criatividade do artista quando cada um reinventa a paisagem usando técnicas e suportes inovadores a ponto de a paisagem ficar tão diluída que podemos considerá-la como não paisagem. Para entender os novos contextos da paisagem na arte contemporânea, são necessários ingredientes, como espaço, tempo e memória.

 A paisagem em campo ampliado[1] é o conceito que venho explorando desde 2016, pois é instigante desafiar o artista no modo como irá construir um trabalho que não precisa ser uma paisagem propriamente dita e pode ter conotações metafóricas ou simbólicas, ou ainda, ser representada em diferentes níveis de associações. São 20 artistas que buscaram representar a paisagem e apresentam os seus trabalhos nesta exposição e mais a artista Lou Borghetti, que nos deixou em 2020, e trabalhou por vários anos na série de pinturas Possíveis Paisagens.

 A paisagem pode ser reinventada a partir de procedimentos incitantes que englobam técnicas e conceitos associados à liberdade de criação e ao processo criativo, permitindo o uso de teorias, referências e conceitos que, somados às práticas artísticas experimentais e existenciais, formam novas paisagens contemporâneas.


Notas:

[1]KRAUSS, Rosalind E. A escultura no campo ampliado / https://www.ufrgs.br/arteversa/rosalind-krauss/

Fotografia: Lisa Roos