Fernando Cacciatore de Garcia

Fernando Cacciatore de Garcia mostra desenhos de suas viagens gravados em metal em exposição na Gravura Galeria de Arte

A exposição “Memórias de Viagem – Paisagens Gravadas”, do diplomata aposentado, historiador, poeta, colecionador de arte, desenhista e gravador Fernando Cacciatore de Garcia é a nova mostra da Gravura Galeria de Arte, que se inaugura no dia 7 de maio, às 19h. O artista apresenta 14 gravuras em metal (pontas-secas), incluindo as matrizes e as gravuras impressas, para melhor entendimento da técnica.
Garcia desde muito cedo cultivou interesse pelo desenho e por desenhistas. Embora sem formação específica, procurava imitá-los, desenhando em qualquer papel que lhe chegasse às mãos. A prática começou no colégio, continuou na faculdade e se manteve durante sua carreira profissional.
Seu artista preferido e fonte de inspiração externa era Dürer, desenhista, pintor e gravador do Renascimento alemão. Garcia admirava a capacidade de Dürer de criar volume e profundidade, com pequenos traços paralelos, e de retratar realisticamente paisagens.
Já a motivação interna de Fernando Cacciatore de Garcia era de se expressar. Mesmo em atividade como diplomata do Itamaraty, no início dos anos 1970, em Brasília, ele não deixou passar a oportunidade de se inscrever em um curso de gravura em metal, com o renomado gravador Rossini Perez. Seu objetivo era aprender a técnica da ponta-seca, para “imitar” Dürer.
O trabalho diplomático levou Garcia a um longo período de vivência no exterior, em vários países, de meados dos anos 1970 ao começo dos anos 2000. Acabou deixando de se dedicar à gravura, mas preservou o hábito de desenhar, em especial paisagens. Com isso, reuniu muitos desenhos.
Em 2005, voltou ao Brasil e à sua cidade natal, Porto Alegre, para onde solicitou remoção, indo trabalhar no escritório do Itamaraty no Rio Grande do Sul. Dois anos depois, Fernando Cacciatore de Garcia se aposentou voluntariamente como Ministro.
Para recuperar o tempo perdido no campo artístico, em 2008, inscreveu-se como aluno no ateliê da mestra-gravadora Eliane Santos Rocha. Disso resultou sua primeira exposição, em 2010, “Memória da Tortura”, na Galeria Mônica Filgueiras, de São Paulo.
Em seguida, começou a gravar as paisagens que desenhara pelo mundo. O realismo de seu trabalho mereceu elogios de quem tomava contato com seus trabalhos. Nas pontas-secas, Garcia conseguiu elaborar mais os desenhos, criando detalhes que não faziam parte das paisagens que desenhara.
Sobre sua exposição da Gravura Galeria de Arte, Fernando Cacciatore de Garcia, aos setenta anos, deu um depoimento muito pessoal: “juntei as pontas de minha vida, resgatando os desejos da alma sequiosa de criatividade de um guri de sete anos e de um rapaz de dezessete”. A mostra ficará em cartaz até 31 de maio de 2014.

Serviço
Exposição “Memórias de Viagem – Paisagens Gravadas”, gravuras em metal (pontas-secas) de Fernando Cacciatore de Garcia
Abertura: 7 de maio de 2014, quarta-feira, às 19h
Visitação: até 31 de maio de 2014, de segunda a sexta, das 9h30 às 18h30, e sábados, das 9h30 às 13h
Realização: Gravura Galeria de Arte
Rua Corte Real , 647 | Petrópolis | Porto Alegre
www.gravuragaleria.com.br | gravura@gravuragaleria.com.br
Fone:: (51) 3333-1946

FERNANDO CACCIATORE DE GARCIA

Pouco eu sabia até agora sobre a faceta artística de Fernando Cacciatore de Garcia, diplomata, ministro do Itamaraty, escritor, poeta e tradutor de nada menos do que o clássico francês “As Ligações Perigosas”, de Choderlos de Laclos. O trabalho do exímio gravador é obra da maior qualidade, tanto pela técnica quanto pelas razões e origens de sua produção. Trata-se de uma coleção de imagens a partir de desenhos que o artista colecionou em suas permanentes viagens pelo mundo. São retratos de uma vida, primeiramente apontados a lápis em pequenos cadernos que o viajante carregou consigo em décadas de deslocamentos. Eu vi estes cadernos. São um tesouro escondido, para não dizer mais. Registros de paisagens encerrando afeto pela natureza, pela arquitetura de pequenos e singelos lugarejos, e também pelos costumes. Mas são, antes, reflexões sobre valores estéticos muito caros a Fernando, os quais, depurados pelo olhar exigente do artista, permeiam de encantamento a alma do espectador. Para quem observa uma sua gravura chamada “Rio Li”, por exemplo, dificilmente ficará convencido de que ela não foi produzida por um oriental, porquanto este trabalho reflete insistente busca pela perfeição e requer o exercício de uma paciência legitimamente asiática para se plasmar naqueles poucos centímetros de papel o universo aberto da paisagem chinesa com água, terra e céu, minúsculas embarcações e árvores encravadas em montanhas gigantescas, quase assombrosas. Ela traz todos os elementos preponderantes na gravura chinesa dos quais sobressaem em feliz síntese o silêncio e a delicadeza da atmosfera. Mistérios. Fernando é minucioso em seus registros, reproduzindo a memória de um olhar sensivelmente exclusivo. Especializou-se na gravura em metal, utilizando a ponta seca, que é a sua mais acurada e complexa técnica. Teve a escola de Eliane Santos Rocha, reconhecida gravadora e mestre contemporânea. Há em cada um dos trabalhos do artista a força que requer esta manifestação da arte em pequenos formatos, sem a qual eles podem ser vistos, mas não delicadamente observados em toda a sua dimensão expressiva. Memórias de viagens. Este poderia simplificadamente ser o título desta exposição única, produzida no andar do tempo do escritor-artista. E digo simplificadamente com o temor de reduzir a um simples título o tamanho de uma obra completa, a densidade que dela se pode fruir com raro e completo deleite: composição, temática, técnica e beleza.
Paulo Amaral
Da Academia Brasileira de Belas Artes, RJ